O montanhismo pode ser definido como a ascensão de montanhas por caminhada ou escalada. Faz parte de um conjunto de atividades bastante amplo, denominado excursionismo. Devido ao fato do montanhismo ter-se iniciado nos Alpes, recebe também o nome de alpinismo, denominação que se generalizou bastante, tornando-se amplamente aceita.
A rigor, a palavra “alpinismo” deveria ser reservada para as atividades montanhísticas realizadas nos Alpes, assim como “andinismo” para os Andes, “himalaismo” para o Himalaia, etc. Primórdios – A Cordilheira dos Alpes é considerada o berço do montanhismo. A primeira ascensão de vulto a um dos seus picos foi o Monte Aiguille, em território francês, por Antoine de Ville, que realizou uma verdadeira escalada sobre rocha. Esse fato ocorreu em 1492 e causou enorme furor na época, pois acreditava-se que as altas montanhas eram habitadas por dragões e seres alienígenas. Tão intenso era esse temor, que as próximas conquistas alpinas importantes só se deram em 1744 (Monte Titlis), 1770 (Monte Buet) e 1779 (Monte Velan).
Em agosto de 1786, o médico Michel Gabriel Paccard e o montanhês, caçador e garimpeiro de cristais Jacques Balmat conseguiram atingir o teto da Europa Ocidental: o Monte Branco (4.807 m), situado nos Alpes franco-italianos. Tal aventura foi motivada por um prêmio oferecido por um cientista e naturalista suíço Horace Bénédict de Saussure, que pensava fazer naquele cume alguns ensaios científicos. De fato, um ano depois, o próprio Saussure chegou ao topo do monte, integrando uma expedição com Balmat e outros 17 guias, e ali realizou diversas experiências. O sábio tornou-se responsável pelo enorme interesse que as ascensões em montanha passaram a despertar, porém sob uma ótica mais científica do que esportiva. Medo e superstição ainda rondavam aqueles cumes nevados.
Durante os próximos 70 anos, algumas conquistas notáveis foram feitas na cadeia dos Alpes, entre elas o Jungfrau (1811), o Finsteraahorn (1812), o Watterhorn (1854) e o Monte Rosa (1855). Entretanto, só em 1856, quando um grupo de montanhistas conseguiu ascender ao cume do Monte Branco sem auxílio de um guia experiente, é que o esporte começou a apresentar um surto de popularidade na Europa. Encerrava-se, dessa forma, o período do montanhismo puramente exploratório e de caráter científico. Vanguarda – Em 1857, era fundada a primeira associação de montanhismo do mundo – o Clube Alpino de Londres – conseqüência natural do fato de serem os ingleses na época, senhores quase absolutos das escaladas alpinas. Com a criação do clube, o esporte começava a se organizar. O exemplo inglês foi seguido pelos demais países, e logo apareceram diversas organizações em toda a Europa. Primeiro na Áustria, em 1862, e, um ano depois, na Suíça e Itália. Em 1874, surgia o Clube Alpino Francês. Antes mesmo que muitos dos cumes alpinos fossem escalados pela primeira vez, esforços começaram a ser dirigidos para as montanhas de outras regiões do mundo. Os principais picos do Cáucaso foram conquistados por ingleses em 1868. Nos Andes, o Chimborazo foi vencido em 1880 e o ponto culminante das Américas – o Aconcágua (6.959 m) – em 1897. Na África, foi escalado o pico mais alto do continente – o Kilimanjaro (5.895 m) – em 1889, assim como o Kenya em 1899 e o maciço de Ruwenzori em 1906. A seguir, vieram o Trisul (Himalaia) em 1907 e o teto da América do Norte – o Monte McKinley (6.194 m), localizado no Alasca – em 1913. Clássico – O período compreendido entre o final dos anos 20 e o início da Segunda Grande Guerra (1940) constituiu a época clássica do montanhismo esportivo.
Com o aparecimento das técnicas, foram vencidos desafios de vulto na cadeia dos Alpes – como a face norte do Eiger em 1938 – e, em particular, no maciço dos Dolomitas e nas agulhas e paredões do maciço do Monte Branco. No Himalaia, uma expedição anglo-americana obteve êxito sobre o Nanda Devi em 1936; no Wyoming (EUA), a Devil Tower (Torre do Diabo) foi escalada no ano seguinte. Outros picos – das Montanhas Rochosas ao Cáucaso e da Noruega à Antártica – receberam logo suas ascensões pioneiras. Registra-se nessa fase o aparecimento de escaladores habilidosos como o francês Pierre Allain e os italianos Emilio Comici, Ricardo Cassin e Giusto Gervasutti. 1º Período do montanhismo moderno – Este período compreendeu a segunda metade da década de 40 e toda a década de 50. Novas e difíceis vitórias foram conseguidas em toda a extensão da Cordilheira dos Alpes.
Escaladores como Jean Couzy, Lionel Terray, Edouard Frendo, Louis Lachenal e Gaston Rébuffat deram continuidade às técnicas de escalada em rocha e gelo iniciadas por Armand Charlet, Couttet, Simond e Pierre Allain. Em 1951, os italianos Walter Bonatti – um dos maiores alpinistas de todos os tempos – e Luciano Ghigo introduziram nos Alpes Ocidentais a técnica da progressão em artificial, aplicando-a na escalada do Grand Capucin. Notáveis ascensões foram realizadas por Cesari Maestri, Hermann Buhl, Rebitsch, René Desmaison e o talentoso Bonatti. Nos Estados Unidos, consolidou-se o ataque às extensas paredes rochosas do vale do Yosemite: Lost Arrow (1947), Sentinel Rock (1950), Half Dome (1957) e um paredão de 1.000 metros no El Capitan (1958). Foi também a época de grandes feitos nas altas montanhas do Himalaia e do Karakoram, tais como: a primeira ascensão a um pico com mais de 8.000 metros, o Annapurna I (8.078 metros), em 1950, pelos franceses Maurice Herzog e Louis Lachenal; o Nanga Parbat (8.126 metros), em 1953, pelo austríaco Hermann Buhl; o Everest, ponto culminante do planeta (8.872 metros, segundo recentes medições por satélite), em maio de 1953, pelo neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tensing Norgay; e o K-2, segunda montanha mais alta do mundo (8.858 metros, também aferido por satélite), em 1954, pelos italianos Achille Compagnoni e Lino Lacedelli. Nos Andes, o Cerro Fitz Roy foi vencido em 1952 por Guido Magnone e Lionel Terray. 2º Período do montanhismo moderno – Finalmente, a partir do término da década de 50, apareceu o segundo período do montanhismo esportivo moderno, que se estende até nossos dias. Sucederam-se várias conquistas de picos, agulhas e paredes nos Alpes e nas Dolomitas.
No Yosemite, o El Capitan e o Half Dome receberam novas vias, fruto de escaladas atléticas de extrema dificuldade. Nos Andes da Patagônia, foram escalados a Torre Central del Paine (1963), o Cerro Torre (1974) e a Torre Egger (1975). Nas cadeias do Himalaia e Karakoram, com a redução do número de montanhas virgens por conquistar, novas vias de dificuldade cada vez maior foram abertas em picos anteriormente atingidos. Destacam-se os feitos de Reinhold Messner, que, além de ter subido o Everest em 1978 sem recorrer a oxigênio engarrafado, o Nanga Parbat em solo – isto é, desacompanhado – em 1979, e novamente o Everest, também em solo, em 1980, já escalou todos os 14 picos do planeta com altitude superior a 8.000 metros. Mas nas últimas duas décadas, o montanhismo difundiu-se por um sem-número de países e tem experimentado, na atualidade, um constante progresso evolutivo. Sua organização, em âmbito mundial, encontra-se a cargo da Union Internationale des Associations des Alpinisme – UIAA, com sede em Genebra (Suíça), congregando federações do mundo inteiro.