Meados de maio de 2000 – Ainda estava trabalhando na Fio Forte, pesquisando sobre a produção de equipamentos de montanhismo, quando dei início ao projeto de escalada do Aconcágua pela glaciar de Los Polacos. Nessa mesma época fiz curso de bombeiro voluntário através da ESBO de Porto Alegre e nesta oportunidade convidei meu amigo Sandro Dal Magro para escalar o Aconcágua, o qual aceitou prontamente. Iniciamos então a fase de obtenção de patrocínio e apresentamos o projeto a várias empresas. Algumas ofereceram apoio e outras descartaram totalmente o patrocínio, por enquanto nada. Aos poucos fomos conseguindo várias empresas que nos apoiaram e fomos percebendo que nosso projeto estava tornando-se realidade. Nossa preparação física não estava das melhores, treinando separadamente, um em Porto Alegre e outro aqui em Caxias do Sul.
A 40 dias da partida intensifiquei meu treinamento com natação diária e o Sandro tratando de recuperar uma lesão na coxa. Elisa, minha namorada, que o diga, minha situação de ansiedade antes de partir para a Argentina na última semana, mesma data que fechei contrato com nosso único patrocinador, a Emercor emergências médicas, filiada a rede SIEM com serviços em Santa Fé e Mendoza.
Dia 20 de fevereiro de 2001 partimos de Caxias de carona com um ônibus da Marcopolo que nos deixou em Mendoza três dias após uma estada nada agradável nas aduanas brasileira e Argentina. Chegamos em Mendoza às 23h30min do dia 23 de fevereiro e fomos direto ao albergue Campo Base, no centro da cidade que estava lotado e dormimos improvisadamente na sala do albergue. No dia seguinte visitamos a empresa de emergências médicas filiada a SIEM de Mendoza. Em seguida retiramos/compramos nosso permiso (US$ 80,00) para escalar o Aconcágua na Subsecretaria de Recursos Naturais Renováveis. Pesquisamos preço e compramos os equipamentos que faltavam no Orviz Alta Montanha, contratamos o serviço de transporte por mulas para levar parte da carga da vila até o acampamento base, através da INKA expediciones e partimos com eles para Penitentes, penúltimo vilarejo antes de entrar no parque onde chegamos às 23:00h. Que DIA!! Junto conosco estava um casal de Porto Alegre que iria fazer um trekking no Aconcágua.
25 de fevereiro – Preparamos e entregamos os haul bags que sairiam no dia seguinte. Depois fomos com a INKA de Land Rover, na carona do casal porto-alegrense conhecer o Cristo redentor, fronteira Argentina/Chile, a 3.715 metros de altitude, um lugar espetacular onde podemos ver bem o cerro Tolosa, ultrapassando os 5.400 metros e bem próximo o cerro Madalegna com 3.820 metros. Para se chegar ao Cristo, passamos por Puente Del Inca e las Vacas , então é necessário subir uma serra de 8,5km de chão, totalmente exposta. Na volta passamos pelo cemitério andino e encontramos a pedra em homenagem a Mozart Catão.
26 de fevereiro – Saímos de Penitentes às 13:00h de carona com o Maurício que ia levar o casal de Porto Alegre a entrada do parque. Descemos em Puente Del Inca e logo começamos a subida ao Bandeirito Sur (Quebrada Blanca), Entre subida e descida foram 6 horas, sem trilhas e nenhuma marcação. De lá avistávamos perfeitamente o Aconcágua, batemos umas fotos e descemos rapidamente. Aproveitamos para testar os rádios e na volta em Puente Del Inca um super banho de águas termais. O Sandrinho estava morto de cansado.
27 de fevereiro – Gerardo nos levou até a entrada do parque a 2.900m onde há um helicóptero que vai até o campo base fazer resgate/abastecimento. Iniciamos a caminhada a Confluência, 3.300m às 14:00h e chegamos às 17:45h. Cada um com +/- 30kg. A noite encontramos o casal de brasileiros que tinham ido até Plaza Francia, campo base da face sul do Aconcágua. Estavam mortos de cansados.
28 de fevereiro – Levantamos às 9:30h, tomamos o cafezão e ficamos descansando. Explodiu o fogareiro novo. Mais ou menos às 16:00h fizemos uma caminhada até próximo a base do Tolosa a +/- 3.800 metros. 01 de março – Ao meio dia iniciamos a caminhada até Mulas. Foram 8 horas junto com os mexicanos. Chegamos em Mulas, acabados.
02 de março – Não fizemos nada, contatamos o médico e tudo bem.
03 de março – Fomos ao médico e a situação estava melhor. Estávamos nos hidratando bem. Levamos parte do equipo a Nido, 5.400 metros, inclusive as máquinas fotográficas e descemos a Mulas.Neste dia o guarda parque estava lá em Nido, inclusive solicitei que, quando possível desse uma olhada na nossa barraca.
04 de março – Escalamos os Penitentes, com até 10 metros de altura, “multigabal”; com parafuso, cadeirinha e tudo. as máquinas estavam em Nido e não fotografamos nossa escalada nos penitentes.
05 de março – Subimos a Nido com o resto das coisas e com tempo horrível, a noite “foi pra matar”, quase não dormimos, mais ou menos – 40ºC de sensação térmica.
06 de março – Ficamos em Nido nos hidratando e curando a diarréia, devido a não fervermos a água do degelo.No final da tarde o Sandro teve um pouco de dor de cabeça. Era grande a dificuldade de se obter água através do derretimento do gelo, nossos fogareiros não eram os aconselháveis. Na medida do possível tomamos 3 litros de líquidos, apesar da recomendação de 4. A noite novamente foi terrível, aproximadamente –40ºC, cristais de gelo se formavam no teto da barraca e na madrugada, às 5:00h, ¼ do teto da barraca estava tomado por uma camada de até 3mm de gelo e que com o sacolejo do vento caiam sobre mim.
07 de março – Acordamos às 7:00h e devido ao frio não dormimos mais. O quadro de saúde do Sandro se agravou na noite passada com dor de barriga, ânsia de vômito, diarréia e dor de cabeça. Eu também estava com diarréia e acordei com um pouco de dor de cabeça. Conversamos sobre futuro da expedição e acordamos que não era necessário mais nada para encerrarmos a expedição. Tarefa que não foi fácil aceitar. Descemos até as Mulas com todas as coisas e dormimos melhor, atitude que os mexicanos que vinham nos acompanhando também tomaram, o que deixou-nos mais convictos de nossa decisão.
08 de março – De mulas baixamos direto a entrada do parque, +/- 40km e o Sandro com a mochila 8kg mais pesada que a minha, isto porque após um tombo na Costa Brava, ofertei ao muleiro, algumas sacolas de comida, aliviando meu peso. Saímos às 13:00h de mulas e chegamos na entrada do parque às 22:00h, acabados. Comemos como loucos e encontramos os mexicanos com os quais conversamos e tomamos tequila noite adentro.
09 de março – Saímos às 12:00h de Puente Del Inca para Mendoza, em ônibus de linha, empresa Uspallata, a US$ 10,00 e pegamos ônibus para Santa Fé no mesmo dia.
10 de março – Chegamos em Santa Fé mais ou menos às 10:00h e fomos conhecer a empresa de emergências médicas, filiada a SIEM, de Santa Fé, a pedido da Emercor de Caxias do Sul. Às 13:30h saiu o ônibus para Porto Alegre, onde chegamos dia 11 de março, domingo às 7:00h. Torno a registrar meu anseio de retornar aquela montanha e escalar o glacial de los polacos.
Agradeço, de coração, aos que puderam tornar possível esta expedição, essencialmente a patrocinadora, Emercor emergências Médicas. Aos apoiadores, Gilmar Maccagnan – foto telas, Arenke têxtil, Rider Beach, Olivani, Foto Cine Caxias. Aos colaboradores, West Coast, transporte Pellenz Ltda, Prado distribuidor, Imunizadora Mendes, Posto galiotto, Raiar Natação e hidroginástica, Vitamed, JR Aviamentos, Fly Tour Viagens e Turismo e Associação Caxiense de Montanhismo. Agradecimento especial a Abrelino e Noeli Frizzo e ao Benitez da New Age Agência de Propaganda.