Relato de Viagem: Aula Prática de Caminhada e Acampamento do CBM 2011

Por Marcelo Chiossi.

Amigos Montanhistas, neste último final de semana ( 29/4 e 1/5 ) aconteceu a aula prática de caminhada e acampamento do CBM. Como cenário escolhemos o Cânion do Monte Negro onde encontra-se o Monte Negro, ponto culminante do Rio Grande do Sul ( 1.403 mts ). Partimos de Caxias do Sul às 7hs do sábado em 3 carros. A princípio deveríamos nos encontrar em São José dos Ausentes às 10h30, mas por questões de pontualidade o Denis (levando o Ígor, o Russel e a Lisiane ) logo se encontraram com o Mauro (que levava o Jorge, o Lucas e a Helena) e foram daqui até lá em comboio. A Evelise, a Agnes, o Juliano e a Lise, seguimos em meu carro separadamente. Não fosse um problema intestinal (foi me solicitado anonimato da vítima ) teríamos chegado juntos ao encontro. Bem, quase todos estávamos lá. Faltavam o Nelson e a Patrícia que viriam de POA. Seguimos por mais 43 km por estrada de chão até a Fazenda Pousada Aparados da Serra, com direito a ver o passeio da siriema cruzando nosso caminho. Aqui deixaríamos os veículos estacionados. Antes de partir fizemos alguns exercícios de aula, fazendo a distribuição das cargas, a revisão da montagem das mochilas e equipamentos e o levantamento do peso da comida levada por cada um.

Para não caminhar apenas com as mochilas carregadas, tratamos de bater um belo rango na pousada e sair com a barriga cheia também. (Aqui vale um parênteses mais longo: a refeição foi farta, diversificada e deliciosa – por R$ 15,00 – e alguns não conseguiram moderar no apetite. O Lucas se aproveitou de não precisar seguir o cardápio vegetariano da Helena e mandou ver tudo o quê coube para dentro. O Paulo …, bem, o Paulo é um bom garfo mesmo, mas poderíamos citar outros na lista. O problema dessa aventura gastronômica começou uma hora depois de caminhada, o rastro pelo ar era terrivelmente sentido quando o vento estava a favor … ). Finalmente começamos a caminhar próximo das 15hs sem o casal gaudério-carioca. Céu nublado, temperatura bem fresca, ótimos para percorrer os 3 km em subida até a borda do canion no sopé do monte mais alto do Estado. Num ritmo tranquilo, com algumas paradas para ajuste de mochilas, chegamos lá em 40 minutos quase sem fôlego ( devido à paisagem que se descortinou, não tinha ninguém cansado … ). Apesar do dia nublado, a visão se extendia por todo o canion e o vale do litoral catarinense. Mais conhecido pelo monte que lhe dá o nome, o canion é muito bonito e pouco conhecido. Os campos ondulados e “aparados” chegam até sua borda escorregando para dentro das fendas arborizadas. As suas aberturas às vezes se apresentam largas e cheias de vegetação, em outros pontos são estreitas com paredes verticais e expostas. É um misto de Itaimbézinho e Fortaleza sem as limitações de visitação impostas pelos parques. Aqui o Monte Negro é uma pequena elevação que despeja graciosamente uma língua de vegetação canion adentro. Depois de meia hora se deliciando com a paisagem e tirando fotos, retomamos a caminhada bordeando o peral pelo norte. Um vento noroeste mais forte jorrava em vez em quando um leve borrifo de gotas de chuva. Nada que incomodasse, mas que preocupava. Seguíamos curtindo a experiência e apreciando o cenário que mudava de formas a cada curva sobre peral. Realmente fantástico andar por aqui.

O Lucas ia entretido com seu novo brinquedo: um rádio UHF com cobertura de 52 km. A cada cinco minutos tentava um contato com o pessoal de Porto Alegre. Acho que o que mais ouvimos na trilha foi: “Alô! Nelson na escuta? Câmbio!”. E nada de respostas. O caminho bastante plano não ofereceu dificuldades. Alguns trechos levemente húmidos. Se andássemos com havianas com um certo cuidado, quase não teríamos as unhas dos pés sujas pela terra preta. Depois de mais uma hora e meia de caminhada encontramos um belo gramado protegido por pequeno bosque. Com a noite chegando escolhemos o local para o nosso acampamento. Antes da noite, quem veio nos visitar foi uma surpreendente chuva, bem na hora de se abrir o teto para levantar a barraca.  Acampamento montado, alguns foram buscar água em um riacho que continha um bom volume de água ( e que, do lado do Monte Negro, se vê caindo em cascata para o fundo do canion, o único que vimos cair deste lado; de modo geral os rios correm para o outro lado, ou seja, o peral é um divisor de águas e nascente de rios como o Silveira e o da Divisa que irão formar um interessante acidente geográfico, o desnível dos rios ). Já sob a noite, quando começamos a preparar a janta, o Juliano e a Lise notam dois pontos luminosos do outro lado do canion. O Lucas tenta pela última vez ( ufa! ): “Alô! Nelson na escuta? Câmbio!”. Resposta: “Positivo, Nelson na exxcuta!”. Muito persistentes, e muito atrasados, o Nelson e a Patrícia não desistiram de nos seguir e vinham caminhando com suas lanternas. Mas à noite o caminho não era óbvio (já pensou se eles decidem fazer uma trilha em linha reta?!? Seria a maneira mais fácil de se ir do Rio Grande do Sul para Santa Catarina em um passo e mil metros de profundidade ). Formamos um grupo de resgate ( eu, a Agnes, o Russel e o Juliano ).

Seguimos no escuro o caminho que recém havíamos trilhado até que finalmente encontramos nossos amigos. Abraços de satisfação de termos o grupo completo, um encontro singular de montanhistas no meio da noite à beira de um canion. Apesar de havermos recentemente enchido o bucho no almoço da pousada, tratamos de preparar e comer nossas jantas. Menos por fome e mais para aliviar o peso das mochilas. Ainda pudemos ver parte do céu estrelado até que a chuva chegou com muito vento. Boa parte do grupo teve seu descanso perturbado pelo vento batendo na barraca. Outra parte não dormiu por conta da motoserra do Jorge. O único que se deu bem foi o Mauro, que dividiu a sua barraca com o roncador. É que, prevenido, levou protetor auricular… Pela manhã o vento persistia, mas a chuva já havia terminado. O pessoal foi lentamente saindo de seus casulos com aquela preguiça domingueira. Foram quase 3 hs para se levantar, fazer o “desayuno” e preparar as mochilas de ataque ( note que não desmontamos as barracas ). Antes de iniciar nossa aula-caminhada fizemos alguns exercícios de localização de pontos notáveis na carta topográfica. Então seguimos até o rio próximo. O belo poço seria um convite para um banho, mas o vento que ondulava o capim nos morros desestimulava qualquer pensamento a respeito. Ao subir os morros mais altos desta ponta do canion pudemos ver várias cidades de Santa Catarina que não soubemos precisar quais.

Alguns alunos colocaram em prática seus conhecimentos recém adquiridos e utilizaram suas cartas para entender o que estavam vendo. Outros simplesmente comeram suas barrinhas de cereais com os olhos perdidos na paisagem. Bom, hora de ir embora direto? Não, nada de votação, ainda temos mais um exercício de orientação. Voltamos fazendo a navegação pelo homem-ponto até chegarmos ao acampamento. Almoço preparado ( para aliviar o peso ), acampamento desmontado, voltamos pelo mesmo caminho que havíamos percorrido ontem. Não houve tempo de subir o Monte Negro ou de conhecer as casas de barrica de vinho, mas fica aí um pretexto de voltar para este belo pedaço de Rio Grande. Tão próximo de Caxias, tão importante pelo que ele representa, mas pouco explorado por nós montanhistas. Numa pequena exploração pelo Google Earth ou pelas cartas topográficas, se identificam muitas possibilidades de caminhadas. Mas um simples passeio pela borda do canion já justifica vencer a distância até lá. O quê não se pode é ficar sem conhecê-lo. Para você que teve a paciência de ler até aqui, espero que tenha gostado e se motivado a participar conosco da próxima empreitada.

Saudações montanhistas,

Marcelo Chiossi

Confira imagens do passeio (Fotos de Lucas Hainzenreder Longhi)

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