Ética e Estilo por Juliano Perozzo

Você sabe o que é um A5?
Você sabe o que é um E4?
Você leu o documento de graduação de vias da CBME? www.cbme.org.br pois deveria… Alguém já foi escalar no Rio de Janeiro? Esticões de 4, 5 metros em vias 9º grau. E nem vou falar das vias de 5º, nem se vê as próximas proteções… No Baú, em São Paulo, tem uma via chamada “Paletó de madeira”, um A5, com 25 metros de passadas em cliff de buraco e de agarra ou seja uma possível queda de ate 50 metros. O nome da via diz tudo, quem vai repetí-la não sei mas, o comprometimento já esta no nome da via. Ela existe, alguém teve o sangue frio e a coragem para tal. Como alguém quer subir o Everest se não subiu nem o Aconcágua? Ética e Estilo, são totalmente diferentes e devemos respeitar. Temos o livre arbítrio de fazer escolhas e não escalar tal rota. Eu mesmo levei anos para encadenar uma via de 7a em Flores da Cunha, devido aos seus esticões mas, consegui, e fiquei muito feliz comigo mesmo. Qual seria o mérito do Rato (Ricardo) de Torres, se a via que ele e o Julio escalaram no Fitz Roy tivesse grampos ou chapeletas a cada 4 metros? Mas, não tinha nada, só fendas… Hoje em dia os escaladores estão muito nos ginásios e desconhecem as técnicas mais básicas do montanhismo, muito poucos fazem curso de escalada, escalam 10º grau e pouco sabem sobre montar uma equalização, fazer um abandono de via, quem dirá ter que resgatar um amigo em uma roubada. Temos que ampliar nossa visão, nossa capacidade física e mental e não reduzir o grau da rota à nossa capacidade. Eu mesmo já não consigo repetir vias que eu mesmo conquistei, vou ter que malhar mais, outras vou ter que ir a um psicólogo porque a perna treme tanto diante de um possível tombo de 6 ou 7 metros que muitas vezes desisto, isso faz parte, não somos super herois, mas podemos sempre melhorar, seja um ou outro quesito. Bom pessoal, a via está lá, entramos se queremos. Se quisermos abrimos uma via ao lado, bem protegida e montamos um top rope na via do lado (exposta) e a escalamos dezenas de vezes até que nos sentimos capazes de escalá-la como ela é. Ou quem sabe nunca a escalaremos e nem por isso seremos mais ou menos felizes. Poucas pessoas abrem rotas de escaladas e nestes momentos imprimem o seu estilo na conquista. quem vai repetí-la vai encarar a mesma situação, este é o espírito! O que seria da via “Bugio solando” no Canastra se colocassem uma proteção no esticão do crux? Mudaria de nome talvez “Bugio deitado”… E o Messner, não devemos dar méritos por ele ter subido as 14 montanhas mais altas sem uso de oxigênio suplementar? Claro que devemos, é referência!!! Estou chegando perto dos quarenta anos e o tamanho dos esticões  nas vias que conquisto estão mudando mas, quando lembro das dificuldades das grandes conquistas e da superação, me vem um sorriso na cara… Antes de discutirmos coisas acho melhor estarmos por dentro dos conceitos e aceitarmos os estilos de cada escalador. Se o conquistador acha melhor deixar a via como está, deve ficar como está. Abra outra via dentro do seu estilo e capacidade.

Juliano Perozzo
Presidente da Federação Gaúcha de Montanhismo

Posted in Montanhismo and tagged , , , , .