Por Lucas Hainzenreder Longhi
O Vulcão Osorno é um dos vulcões mais ativos dos Andes do sul do Chile, com 11 erupções históricas registradas entre 1575 e 1869, sendo conhecido mundialmente como um símbolo icônico da paisagem local. Sua forma cônica e imponente é frequentemente comparada ao Monte Fuji, localizado na ilha de Honshu, Japão.
Dia 18 de fevereiro de 2006, um sábado, o tempo não estava muito bom em Puerto Varas. Uma leve chuva atrapalhava e as pessoas andavam apressadas para não se molharem. Como eu já estava decidido a visitar o Vulcão Osorno, levantei-me cedo e fui até a saída da cidade para ver se conseguia uma carona até Petrohué. Não demorou nem 5 minutos na beira da estrada e uma caminhonete parou para que eu subisse na carroceria. Fui de Puerto Varas até um trevo depois da cidade de Ensenada. Me despedi dos chilenos que ocupavam o veículo e esperei mais 5 minutos até que outra caminhonete me levou na carroceria até Petrohué.
Apesar do tempo não estar muito bom naquele dia, tive muita sorte. Caminhei um pouco em Petrohué e tirei algumas fotos do Lago Todos los Santos. Petrohué é uma pequena vila turística com alguns campings, lanchonetes, passeios de barco e fica à direita do Vulcão Osorno. Lá, conversei com um guarda-parque que me deu informações sobre as trilhas. Me interessei por uma chamada Paso Desolación, que passa por trás do vulcão e sai em uma estradinha conhecida como La Picada, à esquerda do vulcão. Seguindo a recomendação do guarda-parque, peguei dois litros de água e comecei a caminhar por um sendero pouco sinalizado.
Era por volta de 1 hora da tarde e eu teria que acelerar o passo, pois precisava percorrer 15 km antes que escurecesse. Comecei a subir pela lateral do vulcão e, depois de caminhar cerca de 5 horas, cheguei a aproximadamente 1.300 metros de altitude (o vulcão tem cerca de 2.600 metros). Foi extremamente cansativo e demorado devido à grande inclinação do terreno. Dali, consegui ver o Vulcão Tronador e outras grandes montanhas da região. Infelizmente, o Osorno permanecia encoberto por uma nuvem e eu não consegui visualizar o seu cume até então.
Depois de subir todo esse trajeto, percebi que estava completamente fora da trilha, já estava anoitecendo e era preciso completar o percurso e sair do parque, pois não era permitido acampar dentro da área. Nesse ponto, eu já havia consumido quase toda a água e, incrivelmente, não havia nascentes no vulcão. Encontrei um pouco de água de degelo e peguei um pouco para utilizar apenas em emergência, mesmo estando cheia de lama. Caminhei bastante enfrentando vários obstáculos de pedra e rocha e já estava sujo, avançando em um terreno muito difícil, cheio de rochas esfareladas. Após vários tombos, ao invés de continuar e tentar alcançar a trilha à frente, resolvi descer do vulcão. Eram quase 8 horas da noite e eu não havia completado nem metade do caminho a ser percorrido. Somente às 9 da noite consegui encontrar a trilha e comecei a segui-la, morto de sede.
Pelos mapas, eu sabia que havia um ponto de água a cerca de 1 ou 2 horas de caminhada. Como estava muito escuro, por volta das 10 horas da noite, decidi parar e dormir onde estava, pois estava extremamente exausto e não tinha mais água para beber. Ainda estava dentro do parque, e para não chamar muita atenção, montei um bivaque (acampamento de emergência), dormindo ao lado de uma pequena árvore a 1.000 metros de altitude, apenas com o saco de dormir e a capa da barraca por cima, sem montar a barraca. Como mágica, o tempo melhorou, as nuvens se dissiparam e ali estava eu, deitado no meu saco de dormir, quentinho, olhando para um céu repleto de estrelas e, à minha esquerda, um magnífico vulcão. Foi a noite mais incrível que já vivi.
Pela manhã, tirei algumas fotos e saí rapidamente em busca de água, pois estava morrendo de sede. Metade da água com lama que eu tinha coletado para emergência havia se transformado em uma deliciosa sopa e a outra metade em um suco. Mas, felizmente, pela manhã, depois de caminhar por meia hora, encontrei uma fonte de água e sabia que tinha mais uma hora de caminhada até os refúgios destruídos e a saída do parque. Abasteci-me com 4 litros de água na fonte e fui até o último refúgio, onde cozinhei e fiquei observando o vulcão. Quando estava próximo à saída, encontrei vários carros e uma caminhonete da polícia que estavam dando apoio a uma competição de mountain bike. Decidi descer pela estrada e os policiais me ofereceram carona até a Vila Las Cascadas. Agradeci, mas disse que preferia ir a pé e segui por mais uma hora até encontrar um senhor de idade fotografando plantas. Começamos a conversar e ele gentilmente me deu carona em seu KA vermelho até a Vila Las Cascadas. No caminho, ele parou várias vezes para eu fotografar o vulcão. Ao chegar na vila, me despedi do senhor e fiquei observando os ciclistas chegarem, já que a vila era o ponto de chegada da competição.
Após 5 minutos, percebi que havia esquecido meus bastões de caminhada dentro do carro do senhor que me deu carona. Fiquei mentalmente torturado durante toda a tarde por causa da perda dos dois bastões e não saí do lugar onde ele me deixou pelo resto do dia. Já eram 8 horas da noite quando comecei a caminhar pela vila, procurando um lugar para acampar. De repente, surgiu o senhor do KA vermelho para devolver meus bastões. Fui dormir feliz da vida por ter recuperado os batões. No dia seguinte, caminhei 5 km até a Universidade de Los Lagos e de lá consegui uma carona até Ensenada, completando assim uma volta inteira no vulcão. Descansei, acampei e no dia seguinte voltei para Puerto Varas em um minibus, pois estava impossível conseguir carona devido à forte chuva. Apesar do tempo bom no domingo (o único dia com bom tempo), em Ensenada consegui tirar algumas fotos do Vulcão Calbuco e do Osorno também.
Realizar a caminhada ao redor do Osorno foi uma verdadeira satisfação para mim. Além de desafiador, o percurso proporcionou uma das noites mais belas e memoráveis que vivi em toda a minha vida. A visão do céu estrelado, a majestade do vulcão e a sensação de conexão com a natureza me encheram de gratidão e admiração. Foi uma experiência inesquecível que guardarei para sempre em minha memória.