Após nossa viagem para Bolívia, em julho de 2016, voltamos para casa, onde ficamos por um mês nos reorganizando, descansando e planejando a próxima viagem.
Em seguida pegamos o voo de Porto Alegre para São Francisco (EUA), em agosto de 2016, onde iniciaria nossa viagem de 45 dias. Ficamos uma noite na cidade e na manhã seguinte fomos encontrar nosso amigo Samir, que seguiria viagem conosco.
Compramos mantimentos e partimos para o estado de Wyoming, foram 2 dias na estrada. Estávamos nos direcionando para cordilheira Wind River Range. Fomos para o distrito de Pinedale, na Floresta Nacional Bridger Teton, onde se encontra o Cirque Of The Towers, um círculo de torres de granito com um lago de degelo em seu centro. Erguendo-se a um pouco mais de 3000msm (metros sobre o mar).
Chegamos ao estacionamento do Big Sandy CampGroumd a noite, montamos acampamento e na manhã seguinte organizamos as mochilas.
A caminhada pela Big Sandy Trail tem aproximadamente 14km até um dos acampamentos base. É necessário carregar toda comida, equipamento de escalada e camping. Levamos mantimentos para 8 dias. Esta se inicia a uma altitude de aproximadamente 2,700msm. Os primeiros quilômetros são de pouca dificuldade, mas, ao longo do caminho, ele vai se tornando mais íngreme. Em alguns trechos é preciso atravessar campos de boulders com muitas pedras soltas.
As paisagens são de tirar o fôlego! Essas cadeias de montanhas foram esculpidas a séculos pelas geleiras, são imensas torres de granito encravadas ao redor de lagos, cercadas por bosques, sendo esta localidade um dos territórios mais selvagens dos EUA, fora do Alaska .
Montamos acampamento próximo a um dos lagos e tratamos de armazenar bem nossas provisões. Este é um território de urso, ou seja, qualquer coisa que possua cheiro (comida, produtos de higiene…) os atrai, podendo destroçar as barracas, equipamentos e inclusive carros para ter uma comidinha diferente da oferecida pela natureza. Deixamos a nossa pendurada com barbantes uns 4m acima do chão em um grande bloco de rocha.
No dia seguinte escalamos a Overhanging Tower (3707msm), para aclimatação. Aproximação difícil, atravessando dois campos de boulders extensos e subida íngreme com muita terra solta, o que nos tomou duas horas. Mas a escalada foi fácil, possibilitando ir em simultâneo, desfrute total.
Dia seguinte resolvemos entrar na Wolfs Head (3708msm). Escolhemos a via normal. Lindíssima linha , faz a Skyline de uma das agulhas. Após café reforçado, como sempre, iniciamos novamente a trilha que leva a laguna. Para chegar nela há de ganhar uns 200m sobre trepa blocos, as pernas já ficam bombamdo na própria trilha. Via crowdeada o que nos fez esperar por um tempo. Novamente, escalada em simultâneo no seu início. Escalamos por aproximadamente 7h e ainda faltavam mais umas 2h no ritmo em que estávamos, mais a caminhada de volta. Neste momento estava quase escurecendo, já havíamos passado o último crux, porém como faltava um bom pouco e iniciava a nevar, resolvemos baixar. Recém tínhamos passado por um ponto de abandono da via, o que nos ajudou. Pelo frio e vento intensos começou a função de botar casaco, anorak, toca, luva, segunda calça, buff. O Samir guiou os primeiros rapéis (já era noite). Foram algumas horas tensas de descida, na escuridão sem lua, sem comunicação verbal ou visual (pelo vento e topografia do descenso). O Samir fez até um pêndulo para conseguir chegar em uma das paradas. Utilizamos a manta térmica para nos protegermos do vento e da chuva. Chegamos na barraca as 3h da manhã, congelados e molhados. Nunca pensamos que um chá quente fosse ser tão bom. Estávamos sentados, no chão, vivos e aquecidos. Uma coisa é certa: a montanha é quem manda.
A rocha sempre de excelente qualidade. Um granitão abrasivo, que onde botava a sapata o pé ficava. Bah! Aderência perfeita, frio seco (sem suor), quase sem necessidade de magnésio. Tínhamos as condições perfeitas.
O dia seguinte choveu, inclusive com granizo. Isto, porém, não nos prejudicou, era dia de descanso.
No dia seguinte, somente eu e o Samir, voltamos a fazer a Wolf’s Head, porém atravessando a skyline no sentido inverso. Desta vez chegamos ao cume. Chegamos novamente já era noite na barraca.
No último dia subimos a Pingora. Mesma qualidade, escolhemos outra via tranquila. Intercalávamos as cordadas. Saíamos com o rack cheio e só parávamos quando faltavam poucas peças para acabar , com a intenção de montarmos uma parada. Isso por uns 300m direto até o cume a 3622msm.
Lá no cume tivemos de baixar as pressas, para fugir de uma chuva com trovões que vinha ao longe, mas essa se dissipou antes de alcançar as torres.
Quando chegamos à base da agulha, ao fim da escalada, um outro escalador passou correndo, pedindo ajuda para um amigo que tinha sofrido uma queda e estava mal. Ajudamos no resgate inicial, depois apareceram uns 20 escaladores para ajudar. O cara foi levado, ainda bem, de helicóptero, mas foram necessárias 3 tentativas, com 3 helicópteros diferentes, para que se conseguisse erguer o ferido. Isto nos fez pensar no respeito, consciência e comprometimento que devemos ter ao ir a este tipo de ambiente, pois se em um país com tantos recursos e tradição de montanha foi difícil o resgate imaginem fora deste.
No dia seguinte arrumamos as coisas e baixamos. Estávamos acabados. Parecíamos uns mortos de fome querendo traçar qualquer comida que aparecesse. Dirigimos por mais 3 dias e chegamos ao famoso parque de Yosemite, na sua parte alta, conhecida como Tuolumne Meadows.
Aguardem a continuação desta aventura nos próximos relatos!!!
Confira o início desta aventura: Escalando por aí – Parte 1 – Bolívia
Cristiana Tedesco Detoni Voltolini
Bióloga, Instrutora de Yoga, praticante de escalada em rocha desde 2007 e de montanhismo desde 2011.
Ismael Francisco Voltolini
Cardiologista Intervencionista, Tenente em 2004, praticante de escalada em rocha desde 2007 e de montanhismo desde 2011