17/07 – As 13h o Thomas passou aqui em casa para me dar uma carona. O Paulo estava aqui deixando umas coisas para o Humberto que está morando em Mendoza. As 14h saiu o ônibus para Porto Alegre. As 16:30 chegamos em Porto e o Igor foi comprar uns pesos e passar na Montanha pegar uns filmes. No rodoviária encontrei o Alcides do Curso de Instrutor de Turismo Aventura. Ele estava indo para Goiás e disse que no verão vão de van para os Andes. O Igor voltou e o Sandro chegou trazendo os grampões emprestados para o Igor e tomamos algumas cervejas confraternizando. As 11:30h saiu o ônibus para Córdoba, por R$123,00.
18/07 – Em Libres, gasolina a 1,79 pesos. A gasolina super é a Fangio (do pentacampeão mundial de F1). Ficamos 03:30h parados em Libres, na Alfândega. Passamos o túnel Paraná/Santa Fé as 18:25 e chegamos em Córdoba as 23h. De Córdoba, pegamos ônibus Mercobus, Plus Ultra por 50 pesos até Mendoza.
19/07 – As 08:30hs apareceu o sol e vimos as montanhas, todo o Cordón Del Plata, Tupungato e outras. Chegamos em Mendoza e fomos direto para o Hostel Huellas Andinas, na Rivadavia, 640, bem no centro, 16 pesos por dia.
20/07 – Escalamos uns boulders numas ruínas do Parque San Martin com o Humberto e Marcos. Últimos ajustes e uma cerveja com o chileno Vladimir, dormimos as 03:30h.
21/07 – As 09h, por 40 pesos cada um, fomos com um casal de irmãos de Campinas até a estação de esqui de Vallecitos, a 80 km de Mendoza, no pé do vale que dá acesso ao Plata e outras montanhas, a 3000m de altitude. Esquiamos e fiz a burrada de não contratar um instrutor para dar umas dicas. Só caí, reclamei pra caramba, mas foi legal. Quando estávamos provando os esquis, conheci Fideo (Martin) que nos falou do refúgio do Clube Andinista Mendoza, porque o Esqui Montanha estava lotado. Perfeito, galera tri gente fina: Elias, Manuel e Mariana. As 18h descemos da estação até o refúgio, uns 300 metros. Refúgio bem legal com 17 camas e fogão a lenha. Nessa tarde ventou e nevou forte, chegou a dar medo.
22/07 – Acordamos as 09:30 e levantamos as 10. Tomamos café. O tempo ruim, nevando, mas estável, com pouco vento. Arrumamos as coisas e porteamos quase tudo até Veguitas, 3200m. Nevando, afundando até as canelas e ás vezes até os joelhos. Saímos as 13:30, chegamos as 16:30, na companhia de um pássaro, talvez um pardal. Deixamos as coisas enroladas na manta aluminizada, cobrimos com pedra e gelo e as 17:20 iniciamos a descida. Trocamos os bastões pelo piolet e descemos em uma hora. Chegaram mais dois casais no refúgio e fizeram uma janta legal e riram tanto.
23/07 – Estávamos as 13:30 pronto para ir a Veguitas mas o vento contra, oeste, cerca de 100km/h, impossibilitou. As 17h a galera do refúgio partiu e nós descemos até o Refúgio da Universidade de Cuyo, de Mendoza. Fabian nos recebeu tri bem, lareira, banho quente, pão, ovo, cebola e maionese. Das 21 as 24 horas dormi após chá com mel e gengibre pra curar a febre em virtude da gripe. Igor me acordou pra jantarmos mais uma vez.
24/07 – O vento parou, acordamos bem, tomamos café e partimos ai pelas 11 horas. Na companhia de 4 argentinos lideramos quase todo o caminho até Veguitas. Eles iam para o Rincon. Em Veguitas pegamos os equipos que havíamos deixado dia 22 e subimos por uma linda crista até Pedra Grande, 3560m. A neve era constante e os últimos 500 metros vieram acompanhados de fortes ventos. Montamos a barraca, derretemos gelo, suco, chá, miojo e soja. Tudo tri, -7ºC as 21h. A noite não foi muito boa, vento, cristais de gelo dentro da barraca. Levantamos as 04:30, o Igor mijou um litro e eu comi mel, estava com a garganta irritada.
25/07 – Alguns raios de sol pintaram pela manhã, mas não durou muito. O resto do dia esteve encoberto e o vento diminuiu. Jogamos forca, cantamos, foi divertido. A noite o céu se abriu e com ele a perspectiva de subir a El Salto amanhã de manhã.
26/07 – Dormi bem, acordamos as 08:30 e estava –10ºC. Ficamos no saco de dormir até as dez horas, tomamos café e decidimos fazer uma caminhada até a entrada de um vale pequeno, indo para El Salto. Saímos as 14:45 e as 16hs estávamos um pouco acima de onde pretendíamos ir. Como de costume neve até as canelas em média. De lá víamos El Infernillo, último crux antes do Salto. Sem perder tempo voltamos até Pedra Grande. Almoçamos e jogamos Batalha Naval com os pés na bolsa de água quente. Jantamos e nos preparamos para dormir, são 01:38 de 27/07, -13ºC.
27/07 – As 08:30 Igor acordou e olhou pra fora, tudo azul, coisa linda! A chance de irmos até o Salto. As coisas estavam todas úmidas e colocamos tudo para fora para secar um pouco. Arrumamos as mochilas. Tomamos café, desmontamos a barraca e saímos as 13:50. O caminho inicial foi tranqüilo mas ao nos aproximarmos do Infernillo a coisa mudou. Um forte vento de Leste, por baixo, e outro de Oeste por cima, movendo a neve da crista das montanhas e encobrindo o céu azul. Entramos na crista do Infernillo. Linda, com pendentes fortes de cada lado, as vezes passando dos 50 metros. Um pé para cada lado e subindo um dos trechos mais bonitos e perigosos. Acabando a crista tínhamos que contornar um bloco de rocha pela direita. A neve, de um lado até o peito e de outro até a coxa, trocamos um bastão pelo piolet e anoiteceu!!! Saímos desta forte pendente de neve e entramos numa trilha de pedra que não demorou muito até entrarmos na última pendente de neve antes do Salto. Passamos ela e vimos o Campo Base e também as luzes de Potrerillos e Mendoza. Limpamos o lugar da barraca que estava encoberto por neve. Montamos a barraca sob vento, frio e neve. Colocamos as coisas para dentro, buscamos gelo, fizemos dois litros de chá e miojo mas, comemos pouco, estávamos sentindo o cansaço e a altitude, -14ºC, com rajadas fortes, dormimos lá pelas 24h. Até então uma das mais difíceis investidas de Alta Montanha.
28/07 – Acordamos por volta das 10h, tomamos chá e perto das 13h tomamos uma sopa, já que na noite anterior não conseguimos comer muito. As 16h um café com cereal e aí saí da barraca. O vento tinha parado, estava –16ºC, bati umas fotos e dei uma pequena caminhada e logo voltei a barraca, agora com um estoque maior de gelo. Chá, suco e preparativos para ataque ao cume. Arrumamos as mochilas, lanternas, kit rango, GPS,…Antes de anoitecer estava –20ºC. A idéia que o Humberto deu do fogareiro a gás para esquentar a barraca foi legal e adotamos constantemente. As montanhas estavam lindas e espero que dê tudo certo amanhã e tempo contribua.
29/07 – O vento incessante das 21h de ontem até as 07 de hoje, nos impediu de cozinhar no avanço e nos propiciou uma noite terrível. Ventos acima de 100km/h, nos abateu a ponto de cancelarmos o ataque. Hoje durante o dia, tranqüilo, e o 1º com sol. Caminhamos um pouco e tiramos fotos e até nos sentimos mais preparados para o ataque. Também visualizamos boa parte da rota e logo voltamos para a barraca. A temperatura média é de –15ºC, sem alterações bruscas como ontem, que variou 5º em 15 minutos e logo surgiram os ventos violentos, tornando nosso pré-ataque mais tranqüilo. A previsão é acordar as 04:30 e sair perto das 06 horas.
30/07 – Acordamos as 04:30 e saímos em direção a montanha as 06:45, estavam –21ºC. Caminhamos com as headlamps até quase 08 horas. Estávamos por uma crista ora neve ora rocha até um primeiro nevado forte e curto onde errei o caminho e quando vi estava escalando III grau, com os bastões soltos nos pulsos e mão (luvas) na rocha. O lance era exposto e desescalei e subi pelo gelo. Seguimos até o final do vale, quebrada Vallecitos, e iniciamos a subida de um nevado forte e relativamente longo, cerca de 800m, quase tudo em diagonal e no final uns 150/200 metros em linha reta até a crista Lomas Amarillas / Plata. 90% do nevado tinha quase meio metro de profundidade e inclinação média de 35/40º. Na metade da subida começou a ventania, que jogava neve contra nós quase incessantemente. Demoramos cerca de duas horas para vencer este nevado que minou nossas energias. A crista Lomas/Plata nos proporcionou uma linda visão da Quebrada de La Angostura, com rampas de neve e gelo muito extensas, incorrendo em vários trechos bem expostos. O vento continuava, a neve na cara, e fomos subindo em direção a crista Plata/Vallecitos mas não chegamos lá. Ventos com rajadas de mais de 100km/h castigavam-nos com neve como se fosse tempestade de areia, aliado ao frio e a exposição, decidimos retornar logo após o meio dia, a 5000m de altitude.
31/07 – A expedição ainda não acabou. Ventos fortíssimos dificultam nossa organização para descer a montanha. Já a temperatura está mais amena. A 1ª vez que faz zero grau, talvez o dia mais
quente. Ontem a noite estava –18ºC. Durante a expedição chorei três vezes, ambas pelos mesmos motivos: a importâncias dessas pessoas na minha vida: minha mulher Elisa, meu pai (falecido) e minha mãe. A meu pai, Waldemar Perozzo, dedico esta escalada, que foi a mais surpreendente da minha vida. Dele aprendi muito, e mesmo agora, sem poder tocá-lo, abraçá-lo, as lembranças ainda me ensinam. A minha mãe quero cuidá-la como nunca fiz antes e a minha mulher quero amá-la até o fim da minha vida e torná-la o mais feliz possível. Ao meu companheiro Igor agradeço muito pois nos entendemos bem e soubemos conduzir conjuntamente as tomadas de decisões em todos os níveis e agradeço também a seu belo trabalho de logística da expedição.Agradeço também aos apoiadores: High Industrial, FotoCine Caxias, Prado Distribuidor, Manaslu, Associação Caxiense de Montanhismo e Snake. E também a Fruteira Ecológica, Sgorla e Eletrônica Central. Ao amigo Sandro, Humberto (pelas dicas e apoio moral) e ao Marcelo que ficou com as broncas aqui em Caxias e a Elisa que segurou as pontas da Empresa. Às minhas irmãs, irmãos e sobrinhos que também me apoiaram.
Obrigado a todos!!!!!!!!!!
Juliano Perozzo, 09 de agosto de 2006.
Para realizar a expedição os montanhistas tiveram apoio da High, Snake, Fotocine Caxias, Manaslu Equipamentos, Prado Distribuidora, Casa do Queijo Sgorla, Eletrônica Central, Fruteira Ecológica e Associação Caxiense de Montanhismo.