Relato de Juliano Perozzo:
“Quando fiz o projeto Paredões de Caxias do Sul (2005 a 2008) este paredão chamei de Paredão da Rocca. Sempre achei que ali poderia ser uma via relativamente fácil, aparentemente. O Eder Hilario, parceiro na conquista desta via, mora ali no bairro Cruzeiro, pedala, e já havia passado por ali e este paredão chamou sua atenção. Me convidou para iniciarmos uma conquista ali. Junto com um amigo, o Eder falou com o seu Alzilio pedindo permissão, marcaram a trilha até a base da parede e ainda marcaram a trilha para o topo do paredão, trabalho que facilitou bastante o início da conquista. Primeira investida: passei na casa do Eder e fomos dar início a nova rota. Iniciei a conquista instalando 3 proteções, a rocha estava úmida e suja. O Eder seguiu instalando mais duas proteções e anoiteceu. No deslocamento de uma pedra solta, a mesma ricocheteou e veio na minha direção, me esquivei e os olhos se arregalaram. Rapelamos contentes com o início. Segunda investida: Retomamos pela via, subi e montei a parada num platô muito bom. O Eder seguiu instalando a única proteção da segunda enfiada e limpou os balcões para acesso ao platô de mato. Segui abrindo a terceira enfiada instalando mais 3 proteções fixas. O Eder assumiu a ponta da corda e instalou a última chapa para acessar o platô abaixo do teto. Anoitecendo, seguimos pelo platô e fizemos uma saída por cima, pelo mato. Descemos a trilha à noite e felizes. Terceira investida: Protegido nas duas últimas chapas da terceira enfiada, fiz a segurança para o Eder instalar as duas primeiras proteções da quarta e última enfiada da via. O trecho estava um tanto duro e assumi a ponta da corda fixando a terceira e última chapa da via e montando a parada no topo. Fizemos a foto do cume e descemos pela trilha felizes. Quarta investida: Para finalizar descemos de rapel e limpamos a via, derrubamos muitas pedras soltas, montamos a parada abaixo do teto, instalamos uma pingo como primeira proteção da terceira enfiada no intuito de promover a segurança caso o abandono tenha que ser por ali, ao menos até chegar na parada da primeira enfiada. Tentamos derrubar um pedrão no final da primeira enfiada mas não conseguimos. Por segurança reposicionamos a quarta proteção da primeira enfiada para desviar a via do pedrão aparentemente solto. Praticamente varremos toda a via. Para mim, o dia mais cansativo. Enfim a via estava pronta. Foram tantas as pedras soltas que resolvemos não comunicar oficialmente a conquista e esperar até que a repetíssemos. Fiz a primeira repetição com o Guilherme Franzoi e a segunda repetição com o Samir Thalji. Conversando com o Eder decidimos por o nome da via em homenagem ao proprietário das terras da base da via. Ao falar com o senhor Alzilio perguntei se poderia dar seu nome a via de escalada o qual permitiu e ficou orgulhoso”. (Juliano Perozzo)
Relato de Eder Hilário:
“Sempre pratiquei diversos esportes e atividades físicas, então comecei a praticar Mountain Bike. Tento conciliar com os meus preferidos, a escalada sem dúvida, está no topo. Sempre gostei de andar sozinho, com pouca gente, não costumo seguir ninguém, até porque sou meio extremista, gosto de desafios, de dificuldade, de lugares remotos, etc. Na pedalada não foi diferente, decidi adotar estratégias, nunca gostei de pedalar e voltar pelo mesmo lugar, então sempre pedalei em círculos, então tive a idéia de explorar, reconhecer toda a região ao meu redor, não estipulei um perímetro, mas queria começar com lugares próximos, então comecei a analisar mapas da região onde resido. Um determinado dia após descobrir várias estradas e localidades, por já ter um conhecimento de orientação, navegação, observei no mapa que um lugar que aparentemente não tinha saída poderia ter, então segui outra estrada, às vezes observando o mapa, seguindo meus instintos. Passando por uma casa, tinha um senhor de idade e uma senhora, estavam lidando com plantas da lavoura na beira da estrada. Sempre cumprimento as pessoas, mas não costumo pedir informações ou conversar, mas decidi perguntar se aquela estrada realmente tinha saída como mostrava o mapa, eles me disseram que sim, a senhora ainda frisou que eu iria pagar os meus pecados, quando falou isso pensei, “é aí que eu quero ir”. Me despedi deles e segui, quando olhei para o lado um relevo íngreme, uma mata fechada e uma parede limpa. Com os conhecimentos de escalada, analisei de longe as possibilidades de conquistar vias ali, criar um novo setor. Continuei pedalando, descobrindo novos lugares e trajetos, mas esse ficou meu preferido, pela dificuldade e exuberância da natureza. Cada pedalada adicionava novos trajetos e incluía esse para passar novamente por ali. Então fui fazer uma limpeza com o Mauro no setor dos paredões de Vila Cristina e comentei com ele a parede que havia visto, disse para ele que poderíamos retornar e passar ali, falar com o proprietário, que era nosso caminho de retorno e ele concordou. Chegando na propriedade, o seu Alzilio veio nos receber, com um olhar desconfiado e curioso, mas muito gentil e atencioso. Fomos diretos, o Mauro abordou o assunto e eu conclui questionando se eu poderia abrir uma trilha até o paredão para analisar as possibilidades de conquistar vias. Ele, como a maioria das pessoas, não conhecem o nosso esporte, mas autorizou, inclusive disse que se eu chegasse ali e ele não estivesse eu podia entrar na mata. Depois de prosear um pouco, nos despedimos e seguimos. Durante o deslocamento eu já convoquei o Mauro para essa empreitada, ele disse que conquistar tudo bem, mas abrir a trilha ficava por minha conta. Então já comecei a planejar tudo, estava inquieto, já comuniquei um amigo, o Carlos, para me acompanhar nesse reconhecimento, então ele topou. No primeiro final de semana fomos, chegamos em um sábado, por volta das 14h da tarde, sabia que tinha poucas horas de luz do Sol, então chegamos e fomos iniciando, analisei da estrada a linha que queria seguir, a mata era fechada, o terreno ingrime, eu fui abrindo com o facão a trilha do início ao fim, o Carlos foi marcando o trajeto com sacola de supermercado. Foram duas horas abrindo a trilha, em torno de 800m de distância e um ganho de elevação de 130m mais ou menos. Chegando na base da parede comecei a analisar as linhas de possíveis vias a serem conquistadas, escalando sem proteção alguns trechos fáceis acabei encontrando a linha da primeira via. Exploramos um pouco mais e decidi procurar um acesso ao cume, encontramos uma espécie de fenda com árvores e pedras, muito ingrime e chegamos no topo, o pôr do sol lindo. Já pensando no retorno, falei que tínhamos que ser breves, então fomos analisando a borda do cume e apreciando o visual, retornamos e falamos com seu Alzilio, nos despedimos e falamos que iríamos voltar. Então comuniquei e convidei o Mauro e o Juliano para conquistar a via. Alguns dias depois, do nada, o Juliano me convidou e eu topei na hora, não me recordo se foi no mesmo dia o convite ou num dia anterior, então partimos, chegamos lá e apresentei o Juliano ao seu Alzilio e partimos rumo a parede. Mostrei para o Juliano a possível linha que tinha analisado, então ele concordou e iniciamos, no relato dele está detalhado a nossa conquista, foram 3 investidas até chegar ao cume, quando chegamos no cume, era tarde, o sol estava se pondo, na verdade na segunda investida chegamos no cume, através de uma trilha que abri. Mostrei a borda do topo para o Juliano, e saímos de lá no escuro, difícil encontrar a trilha para descer. O Carlos, que me ajudou com a marcação da trilha, estava sem sacolas, então pedi para ele marcar com a faca algumas árvores, o que facilitou nossa localização quando eu e o Juliano encontramos essas marcações. Depois, eu e o Juliano fomos concluir a última enfiada até o cume e a quarta e última investida foi a limpeza da via, foi minha primeira conquista, foi tudo muito intenso e marcante, do início ao fim, até na limpeza, no último dia, derrubamos uma rocha muito pesada, acredito ter quase 300kg. Aprendi muito com o Juliano, um cara com muito conhecimento, habilidades e paixão pelo esporte. Pela conquista da via, uma pessoa extremamente agradável, uma boa companhia, foi um enorme prazer fazer parte dessa história com ele e sem dúvidas pretendo acompanhar ele em novas conquistas!” (Eder Hilário)
Mais informações sobre a via você encontra na Croquiteca
Imagens da Conquista